15 de Novembro de 1905
Sim, eu sou culpado.
É muito difícil escrever sobre isso. Entretanto devo contar a verdade. Por meio desta carta, eu quero mostrar ao mundo meus crimes. Crimes hediondos motivados por um sentimento vil e mesquinho: a curiosidade. Foi somente isso que me motivou a cometer aquelas atrocidades. Foram barbaridades sem tamanho apenas para que eu obtivesse o conhecimento. O pior daquilo era a certeza que me transformei em um monstro, pois eu sentia prazer ao inalar o cheiro de carne queimada, ao ouvir os gritos desesperados das minhas vítimas. Sim, vítimas e não cobaias como eu costumava chamá-las. Eu sentia o êxtase me desfazer os sentidos ao ouvir suas suplicas. Mas eu não conseguia parar. Eu não queria parar.
Mas toda estória tem um inicio e a minha não podia ser diferente. Entretanto, não me alongarei em fatos sem importância, já que não é este o motivo deste documento. Minha infância transcorreu normalmente, com meus pais me satisfazendo todos os desejos. Eles me trataram tão bem que sinto nojo deles. Mas eles tiveram o que mereciam por não terem me arruinado quando tiveram oportunidade. Sempre me mimaram. Eu tinha tudo que queria. Sempre. Até o dia em que quis o sangue deles. Nem aí eles recusaram.
Mas isso foi depois de eu ter me graduado médico. Depois também de eu ter casado. Essa foi uma grande fase da minha vida. Foi ela que me abriu as portas para o meu destino. Foram anos de aprendizado, onde os segredos do corpo humano me foram demonstrados. Mas havia algo que ela nunca conseguiu me revelar. Qual a verdadeira força do homem? Por que ele consegue ser soberano mesmo com tantos animais mais capazes, mais adaptados? Inteligência era o que me respondiam. Mas eu não aceitava isso. Devia haver algo mais. Algo que tornava o ser humano mais forte, mais resistente às intemperes. Eu queria saber o que era.
Assim eu comecei a desenvolver minhas teorias e meus estudos sobre a resistência humana. E foi nessa fase que meus pais entraram nos meus estudos, da mesma forma que sempre me apoiaram. Eles me ajudaram no meu primeiro experimento. Ficaram enclausurados em meio a diversas serpentes venenosas de espécies distintas. O objetivo era simples: saber quanto tempo resistiriam. Não foi muito. Mas isso não me fez desistir, pois o gênio não desiste ao primeiro fracasso.
Eu enterrei meus pais como manda o figurino, ensaiando até mesmo um choro durante o velório. Tudo teria terminado por ai se um chefe de policia não tivesse desconfiado de tudo e me perseguido com suas perguntas. No fim, ele durou mais que meus pais.
Eu estava com 24 anos e os fracassos me fizeram buscar novos ares para minhas experiências. Percebi que o veneno, por ser algo que o ser humano tem pouco contato, não seria uma variável de interesse na minha pesquisa. Algo óbvio, mas que não veio à minha mente antes. Eu precisava, portanto, escolher uma variável melhor e mais abrangente. Que pudesse ser aplicada a homens e animais. Foi aí que Deus me mostrou o óbvio: a dor. Mas para aplicá-la, eu teria que pesquisar.
Logo me vi em um avião rumo à Turquia. Os turcos eram famosos por terem desenvolvido em épocas passadas alguns dos mais apavorantes métodos de tortura. Até mesmo Vlad Tepes havia aprendido com eles. Aqui Deus interferiu de novo e eu fui aceito como aprendiz. Mais que isso eu não posso revelar, pois houve um trato. Nem mesmo o seu nome eu sabia, apenas conhecendo-o por Serpente.
Após algum tempo eu pude retomar meus experimentos. Demorou até que eu conseguisse cobaias suficientes para fazer um estudo abrangente, como manda o método científico. Criei grupos controles e iniciei o projeto da minha vida. Primeiro pequenos animais, depois primatas. Por ultimo seres humanos. Uns 20 no total. E foi um sucesso.
Mas tive de abandonar o projeto por um tempo, frente à desconfiança das autoridades. Por um ano levei uma vida normal. Cheguei mesmo a presenciar o nascimento de um filho. Mas havia algo ruim incrustado dentro de mim. Eu gostava do que fazia. Estava sentindo falta. Então eu matei minha mulher e meu filho. Só nesse momento que ela soube o monstro que eu era. Mas esse foi o maior erro da minha vida. Percebi o quanto que ela me era importante. Agora busco uma redenção.
Eu rezei muito. Fiz penitência. Me auto-flagelei. Mas aquilo não era suficiente para tirar aquele sentimento de mim. Por isso aqui estou, escrevendo em frente ao poço de serpentes onde um dia joguei meus pais, com a pena banhada em meu sangue. Espero sinceramente que eu dure mais tempo que eles.
Deixo essa carta apenas como confissão e para mostrar que eu pagarei pelo que fiz,
Dr. Christoffer White
Interessante... principalmente na parte que ele percebe que não era nada sem a família dele, apesar de ter a mente que tem rsrs.
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ResponderExcluirAlguém é obcecado pelo nome? Hmmmmm.
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